segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Carta aberta aos pilotos amadores de karting

"Em primeiro lugar, permitam-me que me apresente. Chamo-me Paulo Ribeiro, tenho 46 anos de idade e gosto de máquinas desde que tenho consciência de mim.
A paixão pelos desportos motorizados foi natural e automática. Durante anos lia atentamente o Volante, o Motor, o Autosport. Não perdia um Grande-Prémio de Fórmula1, uma transmissão das 24 Horas de Le Mans. Fazia a minha peregrinação ocasional a Sintra para ver o rallye, ao autódromo do Estoril ver o que houvesse. Depois, comecei a afastar-me, lentamente, do desporto…

Passaram mais de quinze anos. Há uns anos, uns amigos convidaram-me para uma corrida de karts, em Fátima. E o “bichinho” acordou. Comecei a levar uns amigos comigo, depois mais, depois a participar em provas mais sérias, sempre amadoras, claro, em karts alugados. Depois, cheguei a este Fórum. Durante meses e meses não fui mais que um visitante. Finalmente, comecei a publicar algumas notícias sobre o que se vai passando aqui perto.

Nestes quinze anos de interregno, muita coisa mudou, nos desportos motorizados. Na generalidade, para melhor. Outras continuam como eram. Uma das coisas que não mudou foi o custo da competição. Alto, muito alto e quanto mais evoluída for, mais alto será. Para a maioria dos entusiastas, a competição está fora de questão. Para muitos, sem qualquer ambição de carreira desportiva, nem sequer interessa. Mas uma das coisas boas que aconteceu nestes últimos vinte anos veio oferecer-lhes uma boa solução de compromisso: os kartódromos privados.

Na minha opinião, o aparecimento e multiplicação de kartódromos privados com frotas de aluguer foi o mais importante factor de desenvolvimento e divulgação do karting em Portugal. E uma porta que se abriu para a prática de karting amador a custos acessíveis por inúmeros entusiastas, de todas as idades e por todo o país. Em poucos anos, dezenas de pistas nasceram por todo o país e centenas de pessoas, todos os fins-de-semana, se divertem, mais ou menos a sério, a pilotar as “bombas” de nove cavalos.

Daí até ao aparecimento de miríades de competições particulares, organizadas por amigos, pelos próprios kartódromos, por empresas, foi muito rápido. Actualmente, há dezenas de provas, com mais ou menos participantes, a começar, em curso ou a terminar. E muitas mais a serem planeadas. Basta fazer uma simples pesquisa no Google para descobrir um número muito interessante de provas, algumas delas já com vários anos de experiência, em diversos formatos, qual deles o mais interessante.

Enumerar estas provas, seria exaustivo. Basta, de memória, citar o AS Challenge, o Money Racers, o Pedro Chaves, como exemplo de provas organizadas por grupos de pilotos, ou os Troféus do KIP, Baltar, KIRO ou Batalha, exemplos de provas organizadas por kartódromos. E agora, até provas em circuitos urbanos de vinte e quatro horas, organizadas por empresas particulares.

Todas, sem excepção, iniciativas de mérito, cívico e desportivo. Iniciativas que merecem muito mais atenção mediática do que na realidade têm tido. E que têm mantido o karting – pelo menos o amador – vivo e de boa saúde, para bem de todos nós, pilotos de fim-de-semana e kartódromos. Há mais gente a andar de kart alugado em Portugal num fim-de-semana que em provas “oficiais” da federação fia num ano… É só verificar.

Agora chegamos à parte interessante da carta: a proposta. Porque, obviamente, uma carta tem que ter um objectivo e conter uma proposta. Senão, para que serviria? Assim, gostaria antes de mais de pedir o favor de não me considerarem totalmente ingénuo. Se o fosse, na minha idade, mal estaria… Mas aceito o epíteto de idealista, título que, aliás, me fica muito bem e uso com orgulho em outras áreas da vida. Afinal qual é a proposta? Será uma nova invenção da roda? Nada disso.

A proposta que faço e coloco à discussão neste Fórum é a seguinte: porque não juntar TODOS os pilotos amadores, de TODOS os troféus, num único e verdadeiro campeonato nacional de karting amador em karts alugados com motor a quatro tempos? Porque não criar um movimento de pilotos amadores que permitisse realizar oito, nove, dez provas, num ano, com 60, 80, 100 pilotos por prova? Um campeonato independente de circuitos ou negócios, feito por pilotos para pilotos. Em que os beneficiados sejam, em primeiro lugar, os pilotos que o fazem.


Não podemos estar à espera de milagres. Se não formos nós a pagar do nosso bolso, não nos divertimos nas nossas corridas de teco-tecos… Embora haja quem já consiga ter patrocinadores e hajam já equipas que, sendo amadoras, já estão muito evoluídas em todos os aspectos, só um grande movimento simultâneo de pilotos amadores poderia gerar massa crítica para captar a atenção dos media. E só a atenção dos media poderia trazer os patrocinadores a sério.

Assim, talvez em 2011 a tal marca que agora paga milhões para fazer corridas de aviões, dispense 50 ou 60 mil euros e pague um ano inteiro de corridas a 100 ou 200 pilotos amadores. Pois se pagam para um tipo se atirar à água numa banheira com asas…

Seria muito bom para nós, pilotos amadores. Seria bom para os kartódromos. Seria bom para os fornecedores de materiais e equipamentos. Até para a Brisa seria bom (nota mental: contactar como potencial patrocinador)… Seria muito bom para a modalidade em si, para as localidades. Só vejo vantagens: correr por menos dinheiro, com boas condições, projecção para todos.

Não seria possível, por um momento, deixarmos de lado egos, rivalidades, picardias do passado e construir alguma coisa de único, grande, que deixe uma marca na história do karting neste país? Construír um evento de que se possa dizer com orgulho, muitos anos depois, “eu participei”, “eu fiz parte de”?...

Eu gostava de o fazer. Aliás, até já comecei. Comprei um domínio e fiz um website em Wordpress para apresentar a ideia (podem vê-lo em www.openkarting4t.com tenho muita honra na vossa visita) e comecei a caça ao patrocinador. Sem grande sucesso, comecei tarde. Já virei a ideia para um conceito patrocinado por cada um… enfim, já estamos habituados…
Quais são as vossa opiniões, sugestões, comentários? Mais ideias são – mesmo - bem vindas. O que me dizem? Vamos a isto?"


As respostas a este desafio lançado pelo Paulo Ribeiro podem ser consultadas aqui.


Entretanto, informamos que a entrevista de Luís Bajouco, relativa ao último GP de 2009, será publicada brevemente, bem como o calendário da edição 2010 do Troféu Pedro Chaves que, ao que tudo indica, estará pronto ainda esta semana!

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